sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Híbridos


Símbolo da urbanidade, concreto concretado, ferros contorcidos, ruas esquadrejadas, postes eriçados, fluxos multiplicados, moradias verticalizadas, restos amontoados, chão impermeabilizado, solo escondido, rios retificados, natural transformado, humanos massificados, não humanos retirados. O espaço transformado, socializado, separado. Pródigos nem sempre retornam no silêncio, estáo fora do alcance das mãos, do entendimento, da reversão. A chuva desce não encontra o canal, não encontra fluência para o caminho, acumula, enche, evidencia o escondido, pede passagem, carregando o que atrapalha, e para o movimento. O inverno se faz verão o verão se traduz em calor escaldante, refletido no vidro e no concreto. O vento não consegue dissolver o concentrado, as nuvem de algodão, transformam-se em carvão, a fuligem das chaminés se mistura com o ar, os tóxicos reagem e revoltam-se na chuva, entram nas narinas e passeiam pelos pulmões. Nas fábricas a transformação, a matéria se faz em consumo, o ferro carro, o petróleo plástico, a madeira móveis, o couro sapato. Os restos são jogados, amontoados e retroalimentados. O natural é socializado, transformado, resignificado e já não é mais o que era. As pessoas aculturadas, juntas, reunidas, carregadas, conectadas por ruas, passarelas, cabos e sangue. Os ônibus lotados, metrôs lotados, calçadas lotadas de fluxos humanos que seguem sem olhar, sem ver, sem tocar, sem trocar. Alimentadas por enlatados, ensacados, transgênicos, hormônios, nanos, micros e light’s se que se misturam com orgânicos naturais e artificiais. O corpo recomportado com o implante de ferros, plásticos, platinas, resinas, silicones, órgãos e filhos. Separadas em classes, credos, cores, gêneros e opções. Se confundem, se juntam, se separam, se exploram, se agridem, se matam. Humanos, ricos, médios, pobres, miseráveis, não humanos divididos por serem iguais e serem diferentes.

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